quarta-feira, 2 de julho de 2014

Os porquês de apoiar Sulu Sou


Venho aqui por este meio manifestar o meu apoio total, incondicional, e etcetera-e-tal a Sulu Sou para presidente da Associação do Novo Macau Democrático. Se sou membro da dita associação para ter legitimidade para divulgar quem apoio para a presidência? Bem, não, mas...Sou afiliado, participo ou participei de alguma actividade da referida associação. Não, só que...Sou simpatizante da associação em epígrafe, aderi a manifestações por ela organizada, ou contribui em dinheiro, trabalho ou géneros para a causa ou causas que defende. Epá vão levar na peida, c... . Não, não e não. Simpatizante, às vezes. Seguidor atento do fenómeno, certamente. José Pacheco Pereira (o tio Zé Pereira) é militante-base do PSD e ao mesmo tempo a maior autoridade quanto à vida e obra de Álvaro Cunhal, líder histórico do Partido Comunista Português e simpatizante de Estaline, o maior homicida do século XX. Portanto o cu não tem nada a ver com as calças.

Nas aulas de Jornalismo (e tive aulas de Jornalismo sim, posso provar e quem duvidar vai logo de carrinho com a prova espetada no focinho) tinhamos um exercício semanal que era de longe o meu predilecto. Mostravam-nos uma imagem qualquer, sem palavras, e pediam-nos para descrevê-la, elaborando uma teoria sobre o seu significado, o seu porquê, podendo mesmo entrar pelo campo da especulação, teorizando sobre causas e consequências, estados emocionais dos seus elementos, tudo o que quisessemos. E é isto que proponho fazer sobre a imagem acima, onde vemos Sulu Sou (em primeiro lugar proponho que o rapaz escolha outro "nome de guerra" que não o do tripulante da nave Enterprise da série Star Trek, interpretado por George Takei; é que "sulu sou" soa a "soluçou", o que em matéria de cacofonia vai onde nenhum homem antes chegou) numa acção de rua a protestar contra a eleição do Chefe do Executivo nos moldes em que actualmente se processa: através de um Colégio Eleitoral que pouco ou nada representa a população de Macau, e de onde participam apenas 0,14% dos eleitores inscritos - isto ainda consegue ser menos do que a afluência às eleições para o Parlamento Europeu.

Aqui Sulu Sou nem é o principal motivo de interesse. Quem o conhece mais ou menos bem está a par dos seus dotes de retórica, do seu discurso solto e sem rodeios, e que diabo, o moço até tem uma voz encantadora. Pertencesse ele a uma "boys band" e era o bonacheirão do grupo, a "fera ferida" - o Donnie dos New Kids on the Block. Tem pinta de rebelde e ao mesmo tempo um tom que denota que houve ali um amor não correspondido, sei lá, talvez aquilo que o tenha levado a virar as costas ao conformismo e enveredar pelo activismo. Já que não conseguiu tornar o seu mundo melhor, quer tornar o mundo melhor para os outros, e não tem medo de nada. Reparem no ar decidido por detrás do microfone, que revela o rosto imberbe, e o olhar posto no futuro, como quem avista no horizonte a realização do sonho de "uma pessoa, um voto" na eleição para o Chefe do Executivo. Aqui o Chefe do Executivo simboliza a meta, o destino final, a concretização de um amanhã anunciado por uma linda aurora em tons de laranja. Notem o corpo firme e hirto, como quem diz estar preparado para qualquer combate, e que à clarividência das convicções junta ainda a boa forma física: "mens sana in corporo sano".

O mais interessante nesta imagem é o pequenote que parece preso às palavras debitadas por Sulu Sou, e que saem do megafone que aparece no canto inferior esquerdo. É possível que aquela criança, que não deverá ter mais que dois anos e picos, não entenda nada do que diz o jovem activista, e que tudo o que sai da sua boca seja interpretado por "da da bu bu gu gu ca ca" e outras garatujas ideológicas (vendo bem aproximam-se mais da sonoridade do dialecto cantonense do que do português, ou outra língua ocidental), mas sem saber, as palavras de Sulu Sou estão subrrepticiamente a instalar-se no subconsciente daquele petiz, e quem sabe um dia mais tarde, na escola primária, interrompa uma aula com a frase "sufrágio universal" (em cantonense, lógico), reflexo da apreensão involuntária da mensagem deste agente da pan-democracia macaense. Atentem ao ar fascinado com que olha para Sulu Sou, reconhecendo nele um líder, ou mais do que isso, um "guru", ou quem sabe uma figura paternal. Notem como a mãe observa à distância, e não tem pressa de afastar o filho daquele cenário que até muito recentemente era considerado "pouco recomendável" - é a mudança de mentalidades em curso.

Aprofundemos o carácter místico de Sulu Sou, e a sua aura de liderança. Observem como a mãe segura num panfleto, provavelmente imbuído de retórica pró-democrática e anti-poder. Vejam ainda como é possível descortinar na indumentária do pequeno os sinais matemáticos de "menos" (-) e de "divisão" (÷). A forma hipnótica como o petiz segue o discurso de Sulu Sou pode ter um peso simbólico além do que esta simples fotografia pode dar a entender: rendido aos argumentos do activista, será talvez a altura de pedir "mais" (+), e de apelar à união, em alternativa à política vigente - e mais que provada como sendo um fracasso - da divisão. Chega de dividir para poder reinar, é o que esta imagem parece querer transmitir. A mãe, orgulhosa, observa a forma como o filho adquire, mesmo que subliminarmente, a sua primeira noção de consciência cívica - esta não vem no boletim de vacinas, nem é administrada no Centro de Saúde. Sulu Sou prossegue a sua missão, evitando abstrair-se com a presença do novo discípulo em miniatura, mas o seu ar de satisfação dá a entender que a presença de um potencial eleitor no futuro é notada.

E é por isso e por outras razões que dou o meu apoio a Sulu Sou. Não se via tanto entusiasmo em torno de uma figura política desde as eleições de 31 de Julho para o Reichstag alemão, e...esperem lá, que isto não é lá muito bom exemplo. Hmmm...desde a Longa Marcha de 1934? Também não...e não simpatizo lá muito com Gandhi...JFK muito menos...bah, olhem, deixem lá o rapaz ser quem ele é, que com toda a certeza encontrará o seu cantinho na História, mesmo que pequenino, como o menino que o contemplo com os olhos cheios de esperança. Chuif, chuif...



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