sábado, 12 de julho de 2014

Presos por uma linha


Falar da CTM deixa-me sempre com azia, e mesmo "batendo-lhe" como fiz no artigo de quinta-feira do Hoje Macau, sinto que a importância que eles dão às críticas resvalam na dura carapaça das suas indiferenças. Se leram o artigo - alguns minutos depois de o conseguirem carregar, tal é a lentidão do serviço que eles próprios proporcionam - devem ter pensado qualquer coisa como: "fosse isto um jornal e não um 'laptop' ou um 'iPad' e limpava o cu à folha. Mas pronto, mesmo assim sabe bem desabafar, e já agora só mais uma vez: VÃO-SE F... Ó CTM! E O MEU XVIDEOS, Ó PALONÇOS DO C...??? (Ah sim, e para vocês que não tenham qualquer relação directa ou indirecta com a CTM, um bom fim-de-semana).

Agora que tanto se fala de interferências do primeiro no segundo sistema da Região Administrativa Especial de Macau, ou até de que esse segundo sistema não era para levar a sério, e tinha uma função meramente decorativa, há quem já há muito tenha percebido isto, e nem tenha feito a tentativa de estabelecer uma ligação entre os dois, pois tudo o que se ouvia do outro lado era: “o número que marcou não se encontra a funcionar”. Obviamente que falo da Companhia de Telecomunicações de Macau, ou CTM, e esta sigla entra na galeria de acrónimos como KGB, IRS ou KKK, ou outros que sugiram espionagem, incompetência, lentidão, e inspirem ao ódio. A CTM detém o monopólio das telecomunicações em Macau, verdade? Falso! Existem pelo menos mais três companhias da rede móvel! Certo, e quem acredita nisto acredita também que por detrás da fachada das Ruínas de S. Paulo estão a Terra do Nunca, o País das Maravilhas, e a Fábrica de Chocolate de Willy Wonka. A CTM controla a rede móvel, a rede fixa, e a mais importante de todas, a jóia da coroa, a Internet. A CTM pode, quer e manda – o problema é que pode mas nem sempre lhe apetece, quer apenas o que lhe convém, e infelizmente manda.

Nunca imaginei que a esta altura do campeonato, em quase 15 anos de RAEM, continuemos entregues à ditadura de um monopólio no sector das telecomunicações. Quando foi para liberalizar o jogo, em prejuízo de Stanley Ho, que tanto contribuiu e continua a contribuir para Macau, foi um ver-se-te-avias, era “para ontem”. Quando se trata de oferecer ao consumidor um leque mais vasto de opções com que possa comunicar com o mundo, fica para as calendas gregas, até porque não dá lá muito jeito. Se no primeiro caso abrem-se as portas a contrapartidas bilionárias, no segundo caso pode ser perigoso. Não que a Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) não tenha acusado o embaraço de Macau ser o único território da Ásia-Pacífico onde o serviço de internet está na mão de uma única companhia – até Timor-Leste tem duas – mas por enquanto vai assobiando para o lado. A esse respeito remeto-vos para esta notícia de há 3 anos, publicada neste mesmo jornal. Penso que está tudo dito.

Mas será que interessa assim tanto ao Governo manter rédea curta no que respeita à internet, evitando dispersar os seus utilizadores e tornar assim mais difícil controlá-los? Mas esperem lá, andam a controlar-nos? A ver o que escrevemos nas redes sociais? A ler os nossos e-mails? A ouvir as conversas com a nossa avó no Skype? Se o Edward Snowden viesse até cá ia pensar que os gajos da CIA não passavam de uns meninos de coro? Eles dizem que temos liberdade, e que não nos andam a vigiar, e nós não temos outra escolha senão acreditar, na falta de prova em contrário. Isto é entre o detentor do monopólio e quem lhe assegura esse monopólio, que assim cantam em dueto “Só nós dois é que sabemos”. Aliás esta história do monopólio leva-me a questionar a utilidade da própria DSRT. Para regular o quê, exactamente? A CTM não se sabe regular sozinha? Este deve ser o único caso no mundo em que uma empresa com capitais privados tem um departamento governamental criado especialmente para ela.

Facto: a CTM censura. Provas desta gravíssima acusação? Experimentem aceder ao sítio www.xvideos.com. Pronto, já sei, é pornografia, que horror, benzam-se já senão o Jesus fica zangado. Se chegaram a essa conclusão mesmo com o acesso bloqueado, permitam-me que vos faça esta pergunta: onde é que está escrito que não podemos aceder a um sítio de pornografia ou outro qualquer de gosto questionável (isso depende da moral de cada um, e onde se lê moral leia-se “cara de pau”), desde que sejamos maiores e vacinados? Posso aceder a este sítio, que por acaso é a maior página de pornografia da net, em Hong Kong, que é a outra RAE da R.P. China, e nas Filipinas, país católico, conservador e com uma forte influência da Igreja em quase todos os aspectos da sociedade. Portanto expliquem-me, ó senhores do monopólio, porque é que não posso aceder à página do XVideos em Macau? Quem é o chico-esperto que anda por aí a determinar o que posso e não posso ver? Que eu saiba este sítio não é mantido pela Falun Gong, pelo Governo Tibetano no Exílio, nem nada que se pareça. Portanto: como ficamos?

Em algumas das minhas (muitas) diatribes com a CTM como destinatário, por vezes escuto comentários do tipo: “mas olha lá, o serviço que a CTM presta não é assim tão mau”. Pois não, quer dizer, isto depende da perspectiva; uma repartição que demore três dias para colocar um carimbo num papel acaba eventualmente por o colocar, e ainda abre a porta todos os dias úteis às nove e encerra às cinco e meia, ou seja, “funciona”. No caso da CTM podemos dizer que funciona…quando funciona. Acho imensa graça às desculpas que encontram para os famosos “apagões”; quando é falha humana, bem, ainda me identifico, pois sou humano, também falho, enfim, passa. Quando é o tal “cabo submarino”, não sei porquê, lembro-me do clássico dos Beatles “Yellow Submarine” – deve ser a tal da “sugestão” de que os psicólogos tanto falam. E diga-se em abono da verdade que algumas das desculpas que a CTM encontra para justificar a porcaria de serviço com que nos castiga são tão ou mais psicadélicas que a fase psicadélica do quarteto de Liverpool. Aquela do dia 25 de Maio, justificando a falha do sinal de internet com a “aglomeração de pessoas” na Praça do Tap Seac, é a mais interessante. Curioso, não me recordo de acontecer algum incidente semelhante aquando da Marcha do Milhão organizada pelo Jornal Ou Mun todos os anos, e onde se aglomeram também milhares de pessoas. Quer dizer, que sejam cobardes e subservientes, a gente até entende, agora tomarem-nos por parvos, por favor, isso é que não.

Quanto à qualidade do serviço de internet, o que posso dizer? Na tentativa de manter o nível elevado desta nobre publicação, fui ao dicionário procurar um sinónimo da palavra que melhor o descreve, e encontrei “excremento”, “fezes”, “porcaria”, “sujidade”, e para os meninos e meninas me entenderem também, “cócó”. O meu psiquiatra proibiu-me de falar deste tema, e já me avisou que a dose de 400 mg diárias de Xanax a que estou medicado é “além do limite tolerado por um hipopótamo adulto”. A este respeito permitam-me mais uma referência para outra notícia de 2011 publicada aqui no Hoje: http://hojemacau.com.mo/?p=13771 , e dizer-vos que começo a perder a esperança. Já me disseram que a ligação é lenta porque vivia num rés-do-chão, depois porque vivia num andar alto, e uma vez um funcionário da CTM chegou mesmo a sugerir (e juro que isto é verdade) que “mudasse de companhia”. Não foi uma coisa mais ou menos deste género que disseram ao Charles Manson antes dele iniciar a sua onda de homicídios? E esperem lá…Charles Manson…CM! Só falta o “T”, “T” de “tramados”, que é o que nós estamos com a merda da CTM.



Sem comentários: