sexta-feira, 11 de julho de 2014

Provedor do leitor


Na edição electrónica do Hoje Macau respeitante ao artigo A pior parte da viagem é...a viagem, recebi do leitor Paulo Bandeira o seguinte comentário:

“…pilotos engalanados, com um uniforme a fazer lembrar os porteiros de alguns hotéis de luxo…”
Uma comparação gratuita e descabida que me ofende como piloto. Uma camisa branca “engalanada” por uma gravata de cor discreta e umas calças escuras dificilmente se comparam a uma vestimenta de porteiro de hotel de luxo.

“Atrasos injustificados, apenas “porque sim”, serviço robotizado…”
Os atrasos nunca são apenas “porque sim”, ou o senhor jornalista acha que os tripulantes também não querem chegar a tempo ao destino e a casa? Quanto à “robotização”, o senhor jornalista precisa de prestar mais atenção ao panorama jornalístico em geral, onde polulam cada vez mais “robots” e papagaios. A título de curiosidade, aconselho a leitura de um discurso de um colega seu, John Swinton: http://www.alamoministries.com/content/english/newsreleases/prostitutes.html

Quanto ao resto do seu discurso, até concordo. Os tripulantes “engalanados” também têm que se sujeitar a esses incómodos (todos os dias). “Now Everyone Can Fly” é o lema de uma das companhias que operam para Macau. Está tudo dito.
Para evitar esses incómodos, o sr. jornalista tem sempre a opção de alugar um jacto particular, a escolha é variada em Macau.

Cumprimentos de um piloto engalanado,

Paulo Bandeira

Paulo Bandeira em 9 de Julho de 2014 em 14:31


Em primeiro lugar gostava de endereçar os mais cordiais cumprimentos ao Capitão Paulo Alexandre Bandeira, natural do território e um dos pilotos pioneiros da nossa companhia de bandeira, a Air Macau. Posto isto gostaria ainda de agradecer o comentário, que prova antes de mais nada que pelo menos alguém lê o que vou escrevendo semanalmente nas páginas do Hoje vai para dois anos. Já respondi em sede própria (comentário neste momento a aguardar moderação), mas sinto que devia também deixar aqui no blogue o devido esclarecimento.

Já alguém no Hoje fez o favor de clarificar que não sou jornalista, mas um mero colunista que tem a sorte de dizer de sua justiça todas as quintas no jornal que considero mais adequado ao meu, digamos, "tom" (e isto não é graxa, é apenas uma constatação) e a malta lá do HM tem uma paciência de santo para as minhas diatribes e afins. No entanto respeito tanto a profissão de jornalista, como a de piloto de aviação comercial, e como em todas as profissões há os que são bons, os que são maus e os que são mais ou menos - claro que incluo o Capitão Paulo Alexandre Bandeira no primeiro grupo.

Posto isto penso que a troca de galhardetes torna-se desnecessária, até porque não generalizei de todo: há pilotos que são boa gente, humilde, casados e pais de filhos, e há outros que se pavoneiam e "papam" as hospedeiras (ou o co-piloto, depende dos gostos) durante a meia horinha que está ligado o piloto automático, em suma, há de tudo um pouco. No entanto dediquei uma linha aos pilotos em particular, e se o Capitão Paulo Alexandre Bandeira "concorda com o resto do meu discurso", então concorda com 90% do meu artigo.

A questão dos atrasos e das justificações, ou antes, da falta delas, é algo da responsabilidade das companhias aéreas sim, e como uma equipa que são, tanto pilotos como restante pessoal de bordo e de terra, deviam assumir que nesse departamento são uma verdadeira lástima. Agora com todo o respeito, Capitão Paulo Alexandre Bandeira, sei que tanto o senhor como a restante tripulação quer "chegar a tempo ao destino e a casa", tal como eu, mas a grande a diferença é esta: a si pagam-lhe para tolerar os atrasos, eu pago para sofrer com os atrasos, e nem uma satisfação levo, ou ninguém me explica porque me deixam a secar ao ponto da anastesia parcial ou completa do glúteo, por vezes em salas sem condições, autênticos depósitos de gado, por um serviço que paguei - e não foi pouco - e não me é providenciado em condições. Repito: com todo o respeito, e não estou de jeito nenhum a insinuar que sou eu que lhe pago o salário e o Capitão Paulo Alexandre Bandeira me deve algum tipo de reverência. Longe de mim fazer tal asserção.

Neste artigo de 6 de Junho último (e desconfio que não acompanha o meu blogue, senão teria conhecimento de que não sou, de facto, profissional da imprensa) onde comento um incidente que se verificou na TAP, recordo ainda um outro que se passou comigo em 1998, altura em que ainda se faziam as ligações entre Macau e Lisboa:

"(...)no regresso o vôo foi adiado por quase 24 horas, por culpa de um pássaro que havia ficado entalado num dos motores durante uma viagem anterior realizada pelo aparelho que nos levaria directamente a Bangkok (no regresso não havia paragem em Istambul). Tudo bem, estas coisas acontecem, e durante a noite ficámos alojados nos navios ancorados em Marvila com o pretexto da Expo 98, tudo bem, mas nunca por um único instante nos disseram a razão do atraso. Houve pessoas que iam sair em Bangkok e perderam o seu "transfer", isto para não falar dos restantes - 24 horas faz diferença a muita gente."

Repare que não custava nada explicar às pessoas que estavam a ver a sua vida a atrasar-se sem saberem porquê que o problema se devia a um pássaro que havia ficado entalado num dos motores. É perfeitamente normal, os pássaros andam lá pelo céu com os aviões, toda a gente entendia. Dizer que tinha sido uma toupeira é que seria estranho. Em vez disso mandaram uma relações públicas à sala onde os passageiros esperavam há horas com o simples propósito de aturar as reclamações, e apenas outras tantas horas mais tarde nos foi dito que teriamos que passar a noite em Lisboa e o vôo só sairia no dia seguinte. E repare que apenas soube da razão deste atraso dias depois de ter regressado a Macau através de terceiros. Será uma boa altura para relembrar que os passageiros pagam por este serviço e não é pouco? Imagine o Capitão Paulo Alexandre Bandeira que ia um café, pedia uma tosta mista e um Sumol, traziam-lhe o pedido três horas mais tarde e nem lhe explicavam a razão da demora.

Quando me refiro a isso do "serviço robotizado" penso que não sou o único que fica com essa impressão; algumas hospedeiras - e mais uma vez evito generalizar - mandam os passageiros à merda com a mesma cara e os mesmos modos com que lhe perguntam se está confortável ou se precisa de mais uma almofada. E já reparou como é que às vezes mandam os passageiros sentarem-se ou apertar o cinto, como se estivessem a falar com crianças do Jardim de Infância ou do Ensino Especial? A única semelhança é que também são pagas para nos aturar. Mais uma vez há casos e há casos, e ainda ontem regressei de Bangkok num vôo da Air Asia que saíu "apenas" com dez minutos de atraso e chegou a Macau em cima da hora prevista. Nesse particular há ainda os aeroportos, que não ilibo de responsabilidades no artigo, e claro, há uns que são piores que outros.

Espero que tinha ficado esclarecido, e mais vez deixo bem claro que não me refiro a ninguém ou a nenhuma companhia em particular, mas naturalmente que fico agastado por ter que perder por vezes uma manhã inteira ou um dia para ir do ponto A ao ponto B de avião numa viagem que me vendem com a promessa de "demorar duas horas". Tudo o que faço no artigo é falar da minha experiência pessoal, e talvez o problema seja apenas meu, que tenho pavio curto ou pouca paciência, ou talvez seja anti-social por não aceitar as coisas como elas são.

Obrigado pela atenção, e espero que passe a seguir o blogue, que tenho o máximo gosto em escrever para si e para todos os me queiram ler, sem que para tal reçeba qualquer contrapartida. É com orgulho mas sem vaidade que posso afirmar que gosto do que faço, e sinto prazer no que faço.

Com os melhores cumprimentos,

Leocardo


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