segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Billy the Kid


Bill Chou foi despedido da Universidade de Macau, anunciou ontem aquela instituição de ensino, que já tinha informado o docente na quarta-feira, não lhe dando qualquer justificação para a não renovação do contrato. A cessassão do vínculo laboral estará relacionada com a afiliação política de Bill Chou, que segundo o próprio começou a dar-lhe problemas a partir de Dezembro último, altura em que se juntou à Associação do Novo Macau (ANM) como membro efectivo. A UMAC alega apenas que o afastamento do docente, que se encontra actualmente a cumprir uma suspensão de 24 dias, se deve ao facto dele "incutir ideologia política nos seus alunos". Recorde-se que Bill Chou é professor de Ciência Política.


Apesar de apenas há alguns meses ser mais frequente encontrar Bill Chou nas actividades organizadas pelo ANM e os seus "satélites", esta fotografia de 8 de Outubro de 2012 indica que a simpatia do académico pelo grupo pró-democrata é mais antiga. Através do "background" onde foi realizada esta actividade onde se vê também Au Kam San é possível verificar que o palco foi a própria Universidade, e o pretexto foi um "fórum político para a juventude". Se dúvidas ainda restam e há quem pense que isto é apenas uma coincidência, e que até Dezembro do ano passado os encontros de Bill Chao com elementos do campo da pró-democracia eram meramente casuais...


Aqui temos mais uma evidência, com o professor agora demitido em Março de 2013 ao lado de Jason Chao, na altura em nítida ascensão. Foi durante uma actividade em que questionavam a veracidade de um relatório respeitante à situação dos direitos humanos na RAEM elaborada pelo Executivo, e submetida à sede das Nações Unidas, em Genebra. Eu até consigo entender que um estudioso da área da política, uma pessoa com convicções e que acredita em princípios, destoando do seu "habitat" onde vive rodeado de gente que se vende por tuta e meia, prefira a companhia de elementos que fazem do activismo a sua forma de protesto, e se assumem como anti-sistema. É fácil de convencer que a ideologia é uma droga perigosa e a discordância um crime, e que a classe dirigente age de acordo com as nossas necessidades, e mesmo que desconfiemos que nos está a tomar por tolos - e realmente dá muito pouco crédito às massas - podemos utilizar um dos "muitos canais que estão disponíveis para atender às questões, dúvidas e reclamações dos cidadãos", mas e se alguém acordar a meio desta lobotomia?


Resposta: é maluquinho, e o melhor é evitá-lo, mudar de passeio quando for visto à distância na rua, para "evitar confusões". Nesta imagem datada um mês antes da anterior vemos Bill Chou a protestar contra a alegada censura de conteúdos no canal de informação chinês da TDM em Fevereiro de 2013. TDM e Universidade de Macau, tal como outros serviços semi-públicos ou financiados pelo erário público têm uma interpretação muito própria de "opinião" - convém que estas sejam inócuas e não levantem questões sensíveis ou em alternativa pode-se sempre ficar caladinho, que assim pinga todos os meses qualquer coisinha na conta bancária. Bill Chao sugeriu hoje na imprensa que Chui Sai On teve influência na decisão quanto ao seu afastamento do corpo docente da UMAC, e o candidato a quarto Chefe do Executivo nega qualquer interferência nas decisões da Universidade. Eu acredito que Chui nem precisou de pestanejar ou fazer cara feia, pois o mecanismo para tratar destes "problemas" está bem afinado, e basta atirar um carapau a cinco gatos para que eles se arranhem uns aos outros, e nem é preciso sujar as mãos. Se estivesse interessado em pagar as contas no fim do mês e fazer um pé de meia para ir passear para o estrangeiro uma ou duas vezes por ano para "respirar", e ficar com uma sensação do que é o mundo real, Bill Chou devia era portar-se bem, como este lindo exemplar de curvatura perante a nomenclatura:


Aí está um exemplo de comunicação entre a classe académica e o poder. Eis a crítica producente, aquela que não resolve nada mas tem a vantagem de não arranjar sarna para se coçar. Agnes Lam, reconhecido anjinho a quem só falta a auréola porque o S. Pedro não fabrica nenhuma para aquele tamanho tão pequeno, debate os problemas "pacificamente", e enquanto acaba na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental num Sábado de manhã a fazer perguntas coreografadas ao "candidato", que acha que todos deviam pôr os olhos nela como exemplo do que se deve dizer ou em alternativa comer e calar, Bill Chou está em casa a fazer contas na máquina de calcular de como pagar as despesas no fim do mês. E ambos eram colegas, lecionando em faculdades onde se estimula a opinião e supostamente se encoraja a pensar pela própria cabeça, incentivando o espírito crítico da juventude que um dia constituirá o grosso da população activa do território, e de onde sairá a elite que nos governará nestes anos que se avizinham - e eu sou Napoleão Bonaparte. A diferença é que ela que ela fez as perguntas certas, e ele fez apenas as perguntas. Que atrevimento, o dele, e boa sorte para a menina, pois nestas coisas da oportunidade, por vezes pensamos que estamos a fazer tudo de acordo com o programa, e acabamos por pisar o risco e acabamos na fossa. Explicações? Não vale a pena, já sabemos que a menina é tenrinha. Obrigado e depois passe pela contabilidade para acertar as contas. Adieu!

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