terça-feira, 2 de setembro de 2014

A lebre disse "miau"



Vejam lá vocês que de tanto bater na Agnes Lam ontem e hoje, veio a ambulância buscá-la e tudo. Que diabo, acho que devia estar agradecido à Assembleia Legislativa e à sua composição maioritariamente clientelista por continuar sem legislar contra crimes como a violência doméstica ou contra os animais. Seja qual for, aquilo que os mais sensatos chamam de inércia e irresponsabilidade desta vez deu imenso jeito. Viva a Idade da Pedra!

Posto isto não sei o que acrescentar mais ao que disse nos dois artigos anteriores, a não ser que de facto há quem pense que na vida pública tudo se resume à dialéctica do "ou és por mim ou és contra mim" - talvez por causa das inúmeras evidências apontando nesse sentido, e do respeitável número de cidadãos que ficaram inteirados desta crua realidade da pior forma possível. Há outros ainda a quem não chega demonstrar que se está por alguém, talvez por eles próprios não terem a certeza dessa convicção, mas para quem ninguém desconfie, fazem questão de demonstrar amiúde que estão também contra o outro lado, mesmo quando daí chegam tentativas de se chegar a um "debate saudável e encorajador", e para tal até se oferecem três alternativas: sim, não e abstém-se.

Este tudo ou nada, este maoismo do "os inimigos dos nossos inimigos nossos amigos são" é um conceito que não está ao alcance de quem é "recém-chegado à vida pública", ou a qualquer outra vida em Macau, para esse efeito. Demora-se anos a levar a água mole à pedra dura até se descobrir que afinal não fura. Quem disse que o nosso léxico proverbial era infalível? Nem as leis são infalíveis, aparentemente, antes pelo contrário. Mas para quem acabou de perder a "virgindade" e "chegou agora à vida pública" (o que é isto, vida pública? é por oposição à vida privada, oh oh oh), ou melhor ainda, quem chegou de fora apenas há pouco tempo, deixem-me dizer-vos que também por estas bandas só os gatos dizem "miau" - as lebres, e apesar de se ter tentado interpretar legislação nesse sentido, ainda não miam.

Quanto à pertinência de mais este fabuloso artigo do nosso mui estimado e sempre atento director do JTM, não consigo entender; escrito em português vem-nos dizer o que há muito alguns de nós já sabia, e que outros aprenderam através do erro. Podia-se traduzir para chinês, mas a população local nem precisa que lhe digamos nada, pois já tinham tirado a pinta à personagem, quando por eles passou e a lufada não foi bem de "ar fresco". Pode talvez tentar vender a mercadoria na zona norte da cidade, onde a sua "protegée" obteve resultados eleitorais muito próximos dos redondos 0%, mas vai precisar de alguma sorte, não sendo ela natural de Jiangmen ou de Fujian. E veja lá se deixa bem claro que o nome da menina é Agnes e não "Epifânia", é que a Lei Básica não prevê uma "epifânia", e por isso é "ilegal". Mas é esse espírito, homem, não da lei, mas o outro, o imaterial. É preciso nunca desistir. Abraço.

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