sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Palavras...uh...palavras leva-as o Bento



Paulo Bento já não é selecionador nacional. Pois é, e tenho pena, pois para mim, e agora vão cair todos em cima de mim, foi um dos melhores selecionadores que tivemos nas últimas décadas. Eu sei, eu sei, é um tipo um pouco rústico, e tem aquela...aquela...e tem aquela forma de falar...falar. Muito...muito engraçada, uh? Engraçada. Contudo é dos selecionadores mais recentes aquele que sabia dar um chuto numa bola, conhecia a psicologia do balneário, foi ele próprio várias vezes internacional, ou seja, nada como Scolari ou Carlos Queirós, para quem os desenhos dizem tudo mas não sabem o que é andar ali dentro a correr, ao pontapé e à canelada. E Paulo Bento teve um desempenho quase perfeito quando substituíu Queirós no comando da selecção em Setembro de 2010, quando Portugal contava com um empate caseiro frente ao Chipre e uma derrota na Noruega na qualificação para o Euro 2012, e conseguiu qualificar-se no "play-off" contra a Bósnia-Herzegovina, com uma goleada em casa por 6-2, coisa infelizmente ainda pouco habitual para nós, e na fase final da prova só caíu nas meias-finais nas grandes penalidades frente à Espanha, que se sagraria bi-campeã europeia com um título mundial pelo meio. Ficou para o mundial do Brasil, e aqui é evidente que lhe faltaram argumentos, nomeadamente jogadores de alta categoria, ou pelo menos soluções, dois ou três jogadores para a mesma posição, por exemplo, ou a velha questão dos pontas-de-lança, que no Brasil tornou-se um "negro fado", muito por culpa da condição física medíocre de vários atletas, alguns deles em lugares-chave, caso concreto de Cristiano Ronaldo. Mas era evidente que a selecção era uma manta de retalhos, entre os jogadores com mais nas pernas, uns em ligas competitivas e outras nem tanto, e os outros com jogos a menos, vindos de lesões ou com pouca experiência em alta competição. Não se pode dizer que Bento tenha sido o principal responsável pelo fracasso no Brasil - fracasso sempre em termos relativos, uma vez que o grupo era complicado, e a derrota por 0-4 frente à Alemanha no primeiro jogo daria a entender que mesmo passando a primeira fase, Portugal não iria muito longe.

O que levou à "demise" de Paulo Bento terá sido o "maoismo" que se instalou no tempo de Carlos Queirós, após o mundial da África do Sul - o tal "a equipa esteve ao seu normal, eu fico". O mesmo que aconteceu com um, aconteceu com outro: a Albânia da semana passada foi o Chipre de Queirós. Não é definitivo que se um treinador faça bom ou mau trabalho depois da fase final de um torneio internacional esteja em condições para continuar, mas no caso de Paulo Bento essas condições não existiam. Arredado da primeira fase de um campeonato do mundo, e sem perspectivas de ter novos talentos afirmados para com quem trabalhar, restava-lhe sair graciosamente, evitando o discurso do ridículo, como na antevisão do jogo da semana passada, em que disse que "não sairia fosse qual fosse o resultado" - é claro que não estava à esperar de perder, como ninguém estava. Não têm sido fáceis as qualificações da selecção portuguesa, e vendo bem nunca foram um passeio no campo, como por vezes conseguem outras selecções como a Holanda, Alemanha ou a própria Espanha, e sem a necessária renovação, vai-se tornando mais difícil. Apesar do sucesso do futebol dos escalões jovens, torna-se quase impossível aos jogadores com 20 ou 21 anos afirmarem-se nos grandes clubes em Portugal, muito por culpa da política de contratações dos dois que têm dominado o futebol nacional nos últimos anos, o Benfica e o FC Porto, que chegam a apresentar muitas vezes onzes completamente compostos por jogadores estrangeiros. Aos nossos jovens resta tentar ganhar destaque em clubes médios dentro do país ou emigrar para ligas por vezes menos competitivas, mas que possam pagar os salários no fim do mês. Entre os nomes avançados para o lugar do demissionário Bento, o favorito é Fernando Santos, actualmente à frente da Grécia. O preferido dos portugueses era José Mourinho, mas esse sabe bem que sem ovos não se fazem omoletes. Agora vamos esperar que seja quem vier para o lugar de Paulo Bento, consiga levar a selecção de todos nós ao país das omoletes, daqui a dois anos.

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