segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O dia em que o "aviário" fechou



Macau acordou incrédulo: a Polícia Judiciária desmantelou ontem à noite uma rede de prostituição que operava há um ano no Hotel Lisboa, detendo 96 prostitutas e seis funcionários do hotel, suspeitos de lenocínio. Segundo o que a PJ conseguiu apurar, a rede controlava cerca de uma centena de quartos do Hotel Lisboa, e para as jovens poderem exercer a sua profissão pagavam uma "jóia" de 200 mil patacas, e uma taxa mensal de 10 mil, chamada de "protecção". Uma vez saldada esta conta, podiam guardar o dinheiro que fizessem, que varia entre os 1500 e os 5000 dólares de Hong Kong por dia. A rede terá obtido lucros na ordem dos 400 milhões de patacas no último ano. As mulheres detidas têm entre 20 e 27 anos e são quase todas originárias da China continental. A rede fazia o recrutamento através da internet, e a polícia encontrou uma base de dados contendo informações sobre 2400 mulheres, que terão feito parte do esquema. As investigações decorrem desde Abril último, quando as autoridades receberam uma denúncia.



Um dos suspeitos detidos é nem mais que Alan Ho Ion Long, sobrinho de Stanley Ho, e um dos empresários mais bem sucedidos da região. A notícia caíu que nem uma bomba na imprensa regional, merecendo grande destaque em jornais locais em língua chinesa, de Hong Kong, e do continente. Alan Ho nasceu há 68 anos em Londres; licenciado em Gestão de Empresas nos Estados Unidos em 1971, deu aulas na Universidade Chinesa de Hong Kong entre 1979 e 1985, altura em que foi estudar Direito para a conceituada Universidade de Harvard. Exerceu advocacia até 1991, e pouco depois juntou-se à STDM como administrador. O seu envolvimento nesta rede é ainda uma incógnita, e a medida de coacção a lhe ser aplicada depende ainda do testemunho de outros suspeitos, mas a imagem do magnata algemado enquanto é levado pelas autoridades é forte, e dá azo a forte especulação sobre a situação do clã Ho, e conhecendo o que a casa gasta, a pergunta que muita gente faz neste momento é: "qual foi a cauda comprida que andaram a pisar"?



Todos sabemos o que se passa nos corredores do Hotel Lisboa, vai para alguns anos. Quem visita hoje aquela que foi a menina-dos-olhos de Stanley Ho fica surpreendido com o que se veio a tornar após a transferência de soberania - só alguém muito ingénuo vai pensar que as belas jovens que se passeiam um pouco por todo o espaço comercial entre a "coffee shop" e o casino estão ali a vender cosméticos. O comentador José Rocha Dinis falou hoje no Telejornal da TDM de "iniciativa privada", comentário que se pode interpretar como alguma surpresa pelas ramificações deste negócio. É lógico que nunca se poderia tratar de "prostituição voluntária", e teria sempre que haver alguém com ligações ao submundo do crime a lucrar com esta "actividade", que muitos consideraram paralela ao próprio jogo. O que me deixa surpreso a mim, ao director do JTM e muito boa gente é quem se encontra agora sob suspeita, e especialmente porquê - esta é uma daquelas coisas que, sendo ilegais, são normalmente "olhadas de lado", desde que não se cometa excessos ou se verifiquem actividades paralelas mais graves. Resta aguardar agora pelos desenvolvimentos futuros, e que impacto poderão ter quer na SJM em particular, quer na indústria do jogo em geral.

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