sábado, 5 de dezembro de 2015

É crime! - parte III


Esta é uma muitas não-notícias que têm andado a circular para colocar a opinião pública contra a vinda dos refugiados da Síria em particular, e de todos os refugiados em geral - podem tê-lo afirmado espaçadamente, mas nunca se deu a entender que o problema era o outro senão a vinda de estrangeiros. Esta agenda é já familiar, mas o que eu proponho agora nesta terceira parte desta minha apresentação é mostrar quem são algumas das pessoas por detrás desta campanha, e que ainda não conhecíamos, bem como as suas possíveis motivaç­ões.




A notícia em si não tem mais nada senão aquilo que ali está, e já tinha falado dela neste artigo. Se ainda quiserem mais uma vez, a notícia continua no mesmo sítio, e igual, sem acrescentar o que quer que seja. Não me parece um motivo por aí além para aquele NAZI festejar, uma vez que não diz ali em parte alguma "fronteiras", nem nada indica que isto seja sequer na Europa, e para não falar de que não se sabe NADA nem PORQUÊ, e nem uma citação de alguém ou de alguma organização se consegue vislumbrar: é um caso típico de manipulação, e muito mal feita, também. Mas vemos ver a tez dos comentários que se seguiram.


Ora essa, e porque será que estas coisas já nem me surpreendem? Com excepção da Ana Prata, que pergunta "onde foi aquilo" mais ninguém questiona seja o que for, mas prefere deixar comentários onde se nota nitidamente uma tentativa de solidificar uma mentira muito, mas muito fraquinha. Agora a seguir vou apresentar uma novidade: uma das MUITAS pessoas que felizmente tem andado como eu na procura da verdade e de dar um pequeno contributo para desmontar esta cabala atroz deixou alguns comentários, questionando apenas as fontes a ausência de outra informação. Foi ainda questionar dos comentadores, que estão ali assinalados com uma seta vermelha, e de seguida mandou-me os logs das conversas, que foram APAGADAS pelo monitor. Vejam só:


A este ponto gostava que referir o utilizador em causa autorizou-me que usasse o seu nome, mas prefiro não fazê-lo, pois além do mais os comentários foram apagados, e fica assim tudo assumido apenas por mim. Aqui a Odete Pinheiro, por exemplo, é confrontada com o facto de não estar ali qualquer referência à Europa, e é verdade que o meu companheiro poderia ter evitado a provocação, que ser calhar conseguia mais dela. No entanto dá para perceber a agressividade com que tenta passar a mentira. 


Odete Pinheiro é, a julgar pelo seu perfil, uma fervorosa cristã, mesmo que não me tenha dado a entender que seja fanática, mas que parece acreditar existir uma "Cristofobia" da parte do Islão. Escusado será dizer que do Islão nunca partiu tal conceito. Mas parece-me ainda uma pessoa um bocado baralhada em relação a certos conceitos. 


Aquilo que a senhora diz que gostava de ver seria possível se: 1) existissem 50 milhões na Europa; os números andam perto, mas na União Europeia, onde se encontra o Espaço Shengen, que tem sido tratado como o "problema" aqui existem menos de 20 milhões e 2) quando se fossem manifestar - e ninguém nos diz que NÃO o fazem - não deparassem com pessoas e exigir a sua expulsão enquanto adoptam condutas violentas e destrutivas. Na imagem da direita vemos que a Odete Pinheiro condena o racismo, pois sendo ela própria brasileira (viveu em Portugal e agora está em Londres) recorda que o Brasil foi feito por emigrantes, cujos descendentes são todos os brasileiros - menos os índios. Talvez fosse bom a sra. Odete pensar o que seria caso os seus ancestrais tivessem deparado com o mesmo o tipo de ódio que estes que ela agora ataca ferozmente vêm-se deparando. Não diria que a senhora é hipócrita, mas sem dúvida que tem sido manipulada ao ponto de já nem conseguir detectar a mentira mesmo quando ela se apresenta de forma desenvergonhada.


Vejam este comentários daquele tal Kum Karacas, que nada fica a dever à eugenia nazi: as crianças destes "invasores" são como bombas-relógio. No entanto "não é racista nem xenófobo", mas "ama a Pátria" e...


...é um fanático religioso cristão. Não é preciso ser um génio para perceber que aquilo que incomoda a Odete e este que não se identifica (é porque considera os seus princípios muito válidos, se calhar) não é a imigração nem o terrorismo: é o Islão. E este receio crescente pela religião do Crescente (gostaram? ah!) nem se justifica, pelo menos pelos números, que dão conta de uma população de 10% de islâmicos na UE até 2030, e muito por culpa das baixas taxas de natalidade entre os europeus ditos "tradicionais". Relembro que em países como a França, Alemanha e a Holanda já há uma terceira geração de imigrantes originários de países do norte de África e das Caraíbas, no caso dos últimos. Se a tal islamização se encontra em curso - vamos imaginar que sim - expulsar imigrantes não é solução, e quem vai obrigar os restantes europeus a ter filhos? 


E se os cristãos católicos podem ficar apenas por alguma antipatia (e já vimos que o Santuário de Fátima teve uma posição muito nobre e digna), os outros cristãos podem chegar a tomar atitudes como esta. Eu desconfio que esta tal "Angela" é um personagem fictício e aquela carta nunca existiu (é demasiado "on the face"), mas a intenção é bem clara. Que igreja é esta que encoraja as pessoas casadas a divorciarem-se e não terem filhos? Só mesmo no âmbito de uma guerra inter-religiosa se pode ver tal coisa. Em frente, e vamos ver aqui um outro caso de pura ignorância:


Com que então, afinal o Salazar andava a bombardear os portugueses, uh? E a cortar cabeças. "A guerra deles" - aposto que nem sabe do que se trata. Depois vejam quando já mais nada resulta atira-se com os atentados em França, que foram a cereja no topo do bolo que tinha sido preparado durante a crise dos refugiados durante o Verão. De facto tenho a certeza que algumas pessoas se juntam à ignomínia  desta causa anti-refugiados por uma mera questão de despeito: começam por tomar um partido "porque sim", assediam outras pessoas que pensam o contrário, ou que são apenas indiferentes ao assunto, e a certo ponto negam as evidências com receio de perder a face. Isto é muito triste, e mais uma vez gostava de reafirmar que quando o assunto é sério, como este, uma crise humanitária, convém abster-se de falar por falar, ou escrever disparates. Agora vamos conhecer um outro tipo de opositores a algo de que nada sabem e que não lhes afecta só que estão a ser cruéis sem motivo, e este garanto que vai ser polémico:



A Patrícia Costa, a primeira a comentar na notícia, começa por dizer que "é do contra", e depois diz que "ninguem é contra", fazendo uma salvaguarda daquilo que acabou de contradizer, em suma, outro poço de coerência. Mas vejam a forma como o jovem que me enviou estes ficheiros consegue ainda melhor:


Sim senhor, tudo questões pertinentes, e eu também gostava de saber o que leva uma pessoa normal a juntar-se a esta fantochada.  E a resposta?


Vai verificar o quê, se fala como se tivesse carregadinha de razão? É aí que o jovem (já vão ver que é como ela lhe chama e tudo) atira com aquele manifesto ridículo de que falei aqui no blogue. Reacção?


Com que então "implicar". De facto é uma coisa perfeitamente banal, isto de recusar ajuda humanitária a pessoas que fogem de uma guerra. Iá, sou contra e tal, e não me chateies. Eu não teria problema com essa demonstração de ignorância, mais daí a fazer activismo contra uma coisa de que nada sabe só "porque sim" é um pouco estranho. Mas ela justifica-se em privado! Vejam:


Bolas, 48 horas sem dormir?! Se eu acreditasse dizia-lhe para ir dormir em vez de andar a fazer merda. Pode ficar sem uma mão? Chiça, e a culpa é do "garoto"? Pois é, e apesar de "não o querer bloquear", bloqueou mesmo. Mas vejam ali a referência a "animais", que tem uma justificação:


Ah, estou a ver. As pessoas, que "pelo sim, pelo não" é melhor ficarem lá a milhas onde tudo rebenta pois podem ser "terroristas" que se lixem, mas os animais vão amar e entender como ninguém. Mais uma coisa que desistiu da humanidade. No seu perfil não dá a entender que a Patrícia Costa é adepta dessa coisa louca que é querer dotar os animais dos mesmos direitos que as pessoas, mas este discurso faz-me lembrar o de outra personagem igualmente adversa à vinda de refugiados, sendo daí mesmo uma activista militante:


Regina Cunha, perniciosa personagem de que falei neste artigo, que odeia muçulmanos e considera que as mulheres com burqa são "prostitutas"....


...mas que pede para contribuir com um euro para uma cadela que sofre de um quisto na cona, e considera os animais "os mais injustiçados do planeta". Cai é em contradição quando coloca a imagem de dois porcos, animal que os muçulmanos não comem - é verdade que não gostam dele, mas não o comem. É injusto generalizar, mas estas não são as únicas pessoas que se encontram nos dois extremos ora do "anti-refugiadismo", ora dos direitos dos animais, mas vejam bem isto, que eu acho pertinente partilhar:


Esta página dos Direitos dos Animais do Brasil, que diga-se em abono da verdade não é um bom exemplo no que toca à honestidade na hora de dar as notícias, fala de como "baleeiros japoneses" partem para a pesca da baleia. Um pouco esquisito que o navio diga "research" e estejam alguns japoneses no cais a mandar adeusinhos (!) mas não é isso o mais importante. Reparem antes nos comentários, e de como a pesca à baleia - e existem grupos dentro do próprio Japão que se opõem a esta prática - é pretexto para o genocídio, ora de japoneses, chineses e ainda asiáticos! Chega-se a apelar a "todos os santos", literalmente, quer Deus, quer o Estado Islâmico (!) que intercedam pelas baleias e "destruam os malditos". Um deles chega mesmo a ligar as catástrofes naturais no Japão a ua espécie de castigo divino. Estes são apenas alguns das centenas de comentários a esta e outras notícias nem sempre muito credíveis que dão conta de maus tratos a animais, e às vezes basta um desgraçado qualquer entalar a pata de um cãozinho, mesmo por acidente, para que esta gente ache que ele merece a morte. Trata-se de fanatismo, lógico, e corresponde aos mesmos padrões que os restantes: desinformação, seguidismo, indiferença pela reposição dos factos, tudo o que nos leva a nós, pessoas normais, a estranhar certos tipos de comportamento.

Menos "estranho" é o comportamento da extrema-direita, esses previsíveizecos, de que tratarei na quarta e última parte desta série. Aguardem.

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