segunda-feira, 20 de junho de 2016

A selecção de Portugal não existe


A selecção portuguesa não existe, simplesmente - existe Cristiano Ronaldo. Será que quero dizer "Cristiano Ronaldo e mais dez"? Não, Cristiano Ronaldo apenas. Alguém ouviu falar de outro jogador o dia todo ontem e hoje, depois do empate sem golos frente à Áustria no Sábado? Fernando Santos já tinha deixado escapar um desabafo em jeito de premonição pouco antes do primeiro jogo contra a Islândia: "Cristiano Ronaldo pode ser o melhor jogador do mundo, mas a selecção não é só ele". É pois, e tirando a padeira, qual é o nome que vos vem à cabeça quando ouvem falar de Aljubarrota? Exacto, e pode-se dizer que aqui Cristiano Ronaldo é um Nun'Álvares Pereira, mas sem a Brites. Ainda não jogámos com os espanhóis, e não sei até que ponto essa possibilidade se vislumbra, mas pelo  que se viu da Espanha (e parece que me enganei, afinal), arriscar-mo-nos-ia-mos (epá, se isto fosse "Scrabble" quantos pontos dava?) a que a História fosse rescrita...ao contrário. Mientras tanto, buena idea empezar aprender castellano.

Mas falando do jogo. Estou parvo como tenho estado completamente em sintonia com o comentador RTP António Fidalgo. A sério, já no rescaldo do primeiro encontro com a Islândia, e enquanto os "patrioteiros" falavam em "vergonha", tinha concordado com ele: não jogámos mal, faltou alguma frieza para encaixar no gelo islandês. Contra a Áustria penso que o domínio de Portugal foi ainda mais flagrante, e o que falhou? A concretização. Porquê? Só temos uma ponta-de-lança e é o Éder, e nem tenho nada contra o Éder, que foi uma chamada natural - seis golos em 13 jogos no campeonato francês, onde apenas dois ou três jogadores marcam 20 ou mais golos por época. Tenho é contra ter SÓ o Éder, mas o Fernando Santos lá sabe com que linhas se cose. Fidalgo ainda acrescentou que "a jogar assim, Portugal ganha de certeza à Hungria", e eu estou convicto disso, ou estaria mais, se não fosse por aquela tendência terrível que temos de dar tiros no próprio pé, e sempre por culpa daquela mania que somos sabichões. E falo, claro, das críticas feitas a Cristiano Ronaldo - a equipa que jogou no Sábado, portanto.

Logo após o final do encontro passou aquele programa apresentado pelo Álvaro Costa, onde durante uma reportagem de exterior entrevistaram um adepto, um tipo com uns 50 e tal anos, que parecia ter estado a chorar. A beber esteve quase com toda a certeza, e mal conseguia juntar palavras que dessem uma frase inteligível, e tudo o que percebi foi "O Ronaldo na fez nada...na marcou...f'lhô um pénalte...". Logo ali pensei com os meus botões, apesar de estar de calções e de tronco nu: "mas o Cristiano Ronaldo não tem só um filho?" E de facto aquele e muitos outros comentadores de ocasião pautaram-se pelo mesmo diapasão: o Ronaldo falhou na sua obrigação de salvar a nação - já não há heróis. Era inevitável cada vez que alguém falava da selecção vir o Ronaldo à baila. O que falhou? Mesmo que não dissessem que foi ele, via-se pelos olhos de cachorrinho morto que queriam dizer "O Ronaldo! Não é ele o melhor do mundo?". Sim, e isso seria óptimo casos estivéssemos aqui a falar de halterofilia, salto à vara ou outro desporto individual. Cheguei mesmo a ler coisas como "o Ronaldo já era", ou "a idade não perdoa", epá como o tempo passa, realmente. Ainda parece que foi há menos de um mês que "o melhor do mundo" ajudou a sua equipa a conquistar mais uma Liga dos Campeões, mas parece que afinal "foi há muito tempo atrás".

Esta tarde vi uma thread de uma notícia num jornal português qualquer, que começava com um leitor a queixar-se que "ter o melhor do mundo só é bom para o Real Madrid". Duvido que o Real Madrid fosse o que era com o mesmo leque de opções que Fernando Santos tem do meio-campo para a frente, mas demos isso de barato. O que pensei logo foi que "fossem todos os portugueses tão esforçados como o CR7 no Real Madrid, e era a Alemanha que tinha dívida com Portugal, e não o contrário". E vejam lá que mesmo com mais de 60 jogos nas pernas foi dar o contributo ao seu país,  de gente que após a estreia com a Islândia já lhe pedia contas, mandava aquelas bocas parvas sobre quanto é que ganha, e como não podia deixar de ser, as habituais comparações com Messi. Mas disso posso tratar mais tarde. A dois dias do jogo decisivo com a Hungria, que no caso de vitória pode ainda dar o primeiro lugar no grupo (nem sei onde foram buscar aquela conversa da "calculadora"), a pressão é ainda maior para um jogo que Fernando Santos chamou "uma final que temos que ganhar", o que alguns duros de ouvido e de cabeça interpretaram como "vamos à final e vamos ganhar" - deve ter sido porque o Fernando Santos trabalhou tantos anos na Grécia, que agora tudo o que diz "é grego". Pobre povo lusitano, que nem sabe o que fazer com a riqueza que tem.


1 comentário:

Pedro Coimbra disse...

E as grandes vedetas, não é só o Ronaldo, estão completamente esgotadas no final de uma época terrível.
A FIFA e a UEFA andam a pensar (dizem...) em soluções há muitos anos.
Até agora, nada.