sábado, 26 de novembro de 2016

Saíu sim, mas ao contrário


Era esta a notícia que vinha ontem no site do zerozero.pt, e que dava conta do "despedimento de Henrik Larsson" pelo Helsingborgs, oficializado esta quinta-feira "depois da descida histórica à II Divisão sueca", o que "nunca tinha acontecido antes" com o clube sueco. Achei estranho que um clube que nunca tinha sido despromovido e estivesse "aflito" mantivesse o mesmo treinador durante toda a época. Ou daí talvez não, tratando-se da Suécia, mas em Portugal penso que não estarei a exagerar se dissesse que no caso de Larsson, esta seria a terceira ou quarta chicotada da temporada. A verdade é outra, e de facto Larsson deixou o clube da sua cidade natal, e onde na época de 1992/93 apontou 50 golos, e que lhe valeu uma transferência para os holandeses do Feyenoord, seguida de outras que fizeram dele o melhor avançado sueco de sempre depois de Ibrahimovic (ou neste caso até Ibrahimovic). Mas foi o antigo internacional que bateu com a porta, e não o contrário, e em circunstâncias..."estranhas". Ah sim, e também não é verdade que o Helsinborgs "nunca tinha sido despromovido" - a não ser que a História tenha começado há 24 anos.



O Helsingborgs Idrottsförening, ou H.I.F., é de facto um dos grandes clubes da Suécia, 5 vezes campeão e outras tantas vencedor da Taça. Contudo o último campeonato conquistado foi em 2011, e a partir daí tem entrado em decadência: classificações de 6º, 5º, 9º e 8º lugares nas épocas seguintes, e este ano um 14º lugar obtido "in extremis" numa competição com 16 equipas, e que lhe valeu, do mal o menos, disputar o "play-off" de manutenção contra o 3º classificado da 2ª divisão, o Halmstads, que depois de empatar fora 1-1, venceu em casa por 2-1, e assim mandou a equipa de Larsson para o segundo escalão pela primeira vez...


...desde 1968. Como se pode ver, nessa época o clube terminou em penúltimo lugar da liga, e Verdade, verdadinha, é que o Helsingborg sofre do mesmo problema de muitos outros clubes que "já eram": falta de liquidez. A equipa era mediana, os jogadores tinham vencimentos em falta, e o clube nunca poderia despedir Larsson, uma vez que não tinha como lhe pagar a indemnização. O lendário avançado do Celtic feito treinador aguentou a crise durante toda a época desportiva, que terminou no último dia 20, antes dos rigores do Inverno nórdico, e até prescindiu dos meses de salário que tinha em atraso, o que lhe valeu rasgados elogios da direcção e dos adeptos do Helsingborgs. Larsson até ficaria de bom grado ao leme do clube que o deu a conhecer ao mundo desportivo "por amor à camisola", e outro certamente não fará milagres pelos Helsingborgs, mas no jogo da segunda mão do "play-off" de manutenção passou-se isto:


O seu filho Jordan Larsson, de 19 anos, e também ele avançado, foi atacado por "hooligans" mascarados, mal se deu o apito final do encontro que ditou a despromoção dos Helsingborgs. E eram adeptos dessa mesma equipa, os agressores, e segundo a polícia sueca, o alvo era o próprio treinador, numa acção que havia sido planificada num grupo secreto do Facebook. Que adeptos ingratos, pode-se dizer; queriam atacar o homem que se dispôs a ajudar o clube num período problemático sem pedir quase nada em troca, e acabaram por agredir o melhor marcador - Jordan apontou sete dos 34 golos do Helsingborgs na Liga.


E assim o Helsingborgs termina um ciclo que teve o seu início e fim com Henrik Larsson. O ex-avançado, filho de mãe sueca e pai cabo-verdiano (um pescador, aparentemente) deu início em 1992 a uma dourada que só havia tido paralelo nos anos 50, e 24 anos depois sai com o clube no mesmo lugar onde o encontrou. Pelo meio ficaram passagens por Celtic, Barcelona e Manchester United, entre outros, além de 106 internacionalizações e 37 golos pela Suécia. Assim sim, é a história contada do princípio ao fim.

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